27 de março de 2010

O Retrato de Dorian Gray

"Mas, era comum, tanto quanto na própria estirpe, ter ancestrais na literatura, talvez mais próximos em tipo e temperamento, muitos, e, com certeza, de uma influência de que podemos ter consciência mais absoluta. Houve vezes em que pareceu, a Dorian Gray, que o todo da história era um simples registro de sua própria vida, não como a vivera em ato e circunstância, mas como a criara na imaginação, como se lhe desenrolara no cérebro, nas paixões. Sentia que as conhecia todas, aquelas figuras terríveis, singulares, que atravessaram o palco do mundo e fizeram do pecado algo tão maravilhoso e do mal, algo tão cheio de sutileza. A ele parecia que, de um modo algo misterioso, aquelas vidas foram sua própria vida."

WILDE, Oscar. 1854-1900. O Retrato de Dorian Gray. Irlanda, 1890.

WILDE, Oscar. 1854-1900. O Retrato de Dorian Gray (Clássicos Abril Coleções; v. 4) / Oscar Wilde; tradução de José Eduardo Ribeiro Moretzsohn. São Paulo: Editora Abril, 2010, p. 186.

11 de março de 2010

O Som e a Fúria

"Quando a sombra do caixilho apareceu nas cortinas era entre sete e oito horas e então eu já estava no tempo outra vez, ouvindo o relógio. Ele era do Avô, e quando o Pai o deu para mim disse: Quentin, eu lhe dou o mausoléu de toda a esperança e todo o desejo; é mais do que penosamente possível que você irá usá-lo para adquirir o reducto absurdum de toda experiência humana, mas não satisfará as suas necessidades individuais, como não satisfez as dele ou as de seu pai. Eu o dou a você não para que se lembre do tempo, mas para que o possa esquecer por alguns momentos e não gaste todo o seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque nenhuma batalha se vence ele disse. Elas não são nem ao menos disputadas. O campo de batalha revela ao homem somente a sua loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão dos filósofos e doidos."

FAULKNER, William, 1897-1962. O Som e a Fúria (The Sound and the Fury), EUA, 1929.