27 de dezembro de 2011

Os Sofrimentos do Jovem Werther

"Hoje fui lá afinar o cravo de Lotte, mas não pude fazê-lo porque as crianças não me deixaram por um segundo sequer, pedindo que eu lhes contasse um conto de fadas, e ela mesma pediu que as atendesse. Cortei-lhes o pão da merenda, que agora aceitam tanto de mim quanto de Lotte; depois contei a mais linda história, a de uma princesa que era servida por mãos encantadas. Aprendo muito com isso e fico admirado da impressão que tudo isso provoca neles. Se invento algum incidente e me esqueço de repeti-lo ao contar a história uma outra vez, eles me advertem de que, antes, contei de outro modo. Assim, sou forçado a manter um ritmo invariável, sem mudar coisa alguma, como se estivesse desfiando um rosário. Isso me convence de que um autor estraga a sua obra, revendo-a e corrigindo-a para uma segunda edição, pois ela nada ganha quanto ao conteúdo poético. A primeira impressão nos encontra em estado passivo, a tal ponto que o homem pode aceitar as coisas mais inverossímeis; e, como se fixam fortemente no seu espírito, ai de quem quiser depois arrancá-las ou destrui-las!"

GOETHE, Johann Wolfgang Von, 1749-1832. Os Sofrimentos do Jovem Werther (Die Leiden des jungen Werthers), Alemanha, 1774.